Em 1989 ocorreu a primeira eleição direta para
presidente da República no Brasil. Depois de quase três décadas de interrupção
do processo eleitoral democrático, os brasileiros voltaram às urnas para
escolher o sucessor de José Sarney. As eleições presidenciais foram realizadas
em dois turnos. Os candidatos que conseguiram chegar ao segundo turno foram
Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello. Lula era representante
das forças políticas de esquerda, recebeu apoio dos movimentos populares e
sindicais. Defendeu um programa de mudanças na estrutura socioeconômica do país
a fim de implementar um modelo socialista. Por outro lado, Fernando Collor de
Melo era um político alagoano pertencente a uma família de políticos
tradicionais, mas seu partido, o PRN, era uma agremiação insignificante. O
candidato Collor de Mello recebeu apoio das forças conservadoras de direita,
que congregava desde os interesses mais retrógrados, como o grande latifúndio,
até interesses dos grandes industriais e banqueiros. Por conta disso, o pleito
ficou fortemente polarizado ideologicamente.
A Campanha eleitoral de 1989
Durante a campanha eleitoral, Collor de Mello usou
todos os recursos disponíveis do que poderíamos chamar de apelo demagógico para
derrotar o candidato adversário. Com seu estilo personalista e exibicionista,
Collor conseguiu passar para a população a imagem de um político que lutava incessantemente
contra a corrupção. Por conta disso, ficou conhecido como o "caçador de
marajás", ou seja, uma referência a sua oposição aos políticos e outros
servidores públicos que recebiam salários extremamente altos.
Collor de Mello conseguiu ainda apresentar-se como o
candidato das camadas populares mais pobres, que em sua campanha foram
denominados de "descamisados". Além disso, ao veicular falsas ideias
sobre o candidato adversário e o cenário político nacional num provável governo
Lula, conseguiu amedrontar a população.
Na área econômica, o programa de governo do candidato
Collor de Mello era explicitamente de tendência neoliberal e previa uma extensa
reforma do Estado, privatização das empresas estatais e abertura da economia à
competição internacional. Collor de Mello venceu as eleições com 35 milhões de
votos, Lula obteve cerca de 30 milhões de votos.
A economia e a governabilidade
O Ministério da Fazenda foi ocupado por Zélia Cardoso
de Mello, que colocou em prática o chamado Plano de Reconstrução Nacional, ou
Plano Collor. Logo no início do governo, foram tomadas medidas econômicas
drásticas e de grande impacto a fim de solucionar a grave crise da
hiperinflação.
O que foi o Plano Collor?
As Regras do Plano Collor
- Os saques da poupança foram limitados a Cr$ 50 mil, sendo o restante retido pelo Banco Central por 18 meses, com correção e juros de 6% ao ano.
- Depósitos em conta corrente também ficaram limitados a Cr$ 50 mil.
- A moeda cruzado novo passa a ser cruzeiro, com o mesmo valor, ou seja, sem cortes de zeros.
- No caso dos saques em overnight, depósitos a prazo e fundos de curto prazo, os valores foram limitados a 20% do total ou Cr$ 25 mil o valor maior, com o restante congelado por 18 meses.
- Os preços da economia foram congelados em valores de 12 de março, com proibição de aumentos sem autorização do Ministério da Economia. A correção seria feita no primeiro dia do mês a partir de maio.
- Os salários, por sua vez foram corrigidos em março pela inflação de fevereiro, em 72,78%. Para abril, a correção foi prefixada, com correção posterior de diferenças entre patrões e empregados.
- Ainda na questão salarial, o plano definiu que a cada três meses, havendo diferença entre inflação efetiva e aumento préfixado, ela seria repassada ao salário mínimo junto com aumento real de 5%.
- O plano extinguiu papéis ao portador e, com isso, cheques com valor superior a 100 BTNs, ou Cr$ 2.953,99, passaram a ser nominais.
- O câmbio passou a ser flutuante com valores fixados pelo mercado.
- Ficou estabelecido que os bancos teriam de aplicar parte do patrimônio em títulos de privatização.
- Houve aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de diversos produtos; taxação mais pesada do setor agrícola; fim dos incentivos à exportação e de benefícios que reduzem o Imposto de Renda das pessoas jurídicas.
- Também foi ampliada a abrangência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
- Ficou determinado que crimes de abuso de poder econômico seriam punidos com dois a cinco anos de prisão e multa de 200.000 a 5.000.000 de BTNs (Bônus do Tesouro Nacional, que correspondia à variação inflacionária medida pelo IBGE).


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